A rota de transição para a utilização do Combustível de Aviação Sustentável (SAF, de Sustainable Aviation Fuel, ou também conhecido como SPK, de Synthetic Paraffinic Kerosine) já saiu do hangar e está na cabeceira da pista para decolar voo. O tema está na agenda dos executivos das grandes empresas aéreas em todo o mundo.
Eu comprovei essa condição ao participar pessoalmente, no começo de abril, do “International Air Transport Association (IATA) Wings of Change Americas”, em Santiago do Chile. Estive presente no painel “Transição Energética da América Latina para Alcançar o Net Zero” juntamente com Maisa Rojas, Ministra do Meio Ambiente do Chile, Stephanie Zhu, Gerente de Sustentabilidade da Delta Air Lines, e Alex Philpott, Diretor de Preços Internacionais e de Carbono, Divisão de Descarbonização da Aviação, do Departamento de Transportes do Reino Unido.
A mesma crença que tenho de que o SAF é necessário para contribuir na redução dos Gases de Efeito Estufa (GEE) e por um mundo mais verde e sustentável, agora foi compartilhada com os executivos da Latam, Aerolineas Argentinas, Iberia, Delta Airlines e Avianca, além de outras empresas presentes no evento com quem conversei. Todos querem o biocombustível para a aviação.
Ao todo, 3% das emissões globais de CO2 vêm do setor aéreo e o SAF é uma das saídas mais rápidas para reduzir a origem dessa poluição. O Brasil não produz o biocombustível avançado, enquanto os Estados Unidos atendem 70% da demanda atual e a Europa, 30%.
Durante o evento, falei sobre o nosso projeto da biorrefinaria Omega Green, no Paraguai, primeira planta no hemisfério Sul, frisando a importância de investimentos em biocombustíveis avançados e de que seja definida uma estratégia de política única comum para toda a América Latina.
O Brasil, que abriga 50% do transporte aéreo da região, tem todas as condições de liderar esse processo – essa é uma tese que eu defendo.
Roberto Alvo, CEO da Latam, anunciou no Wings of Change Americas que 5% do seu consumo de combustível será de origem sustentável até 2030. “Aqui [América Latina] não se produz nenhum litro de SAF. Entendemos que na região temos de dar o primeiro passo no segmento”, disse.
As empresas aéreas reforçam ao mercado produtor que há demanda para o produto e incentiva governos a adotarem medidas para estimular o desenvolvimento de combustíveis alternativos ao querosene de aviação.
O setor precisa cumprir as definições do CORSIA (Regime de Compensação e Redução das Emissões de Carbono para a Aviação Internacional, traduzindo a sigla em inglês Carbon Offsetting and Reduction Scheme for International Aviation). Os biocombustíveis avançados terão um papel importante na busca dessas metas de redução dos GEE (gases causadores do efeito estufa) pela indústria da aviação.
Para Roberto Alvo (CEO da Latam), os principais desafios para o SAF é aumentar a velocidade de construção das instalações fabris por meio de parcerias público-privadas para começar a produção rapidamente.
O SAF será crucial para atingir a meta de crescimento neutro em carbono a partir de 2020 para a aviação internacional. Vários Estados da União Europeia se comprometeram com 10% de uso de SAF até 2030, com países líderes como a Noruega concordando com 14%.
O presidente americano Joe Biden também anunciou que seu governo em breve desembolsará um financiamento para produtores de combustíveis renováveis e aumentará os investimentos em tecnologias de combustível SAF. Além disso, o governo japonês propôs a meta de substituir 10% dos combustíveis de aviação consumidos pelas companhias aéreas japonesas por SAF até 2030.
No Brasil, o Ministério de Minas e Energia (MME) apresentou a primeira proposta do marco legal para inserção do SAF no mercado brasileiro. A minuta foi concluída no subcomitê do Combustível do Futuro que trata do tema e publicada no dia 28 de março. Em síntese, o texto estabelece que os operadores aéreos deverão reduzir as emissões de CO2 em 1%, no mínimo, a partir de 1º de janeiro de 2027, em voos domésticos, usando SAF misturado ao querosene fóssil.
O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) poderá elevar esse percentual para até 10% e, também, reduzir, “a qualquer tempo, por motivo justificado de interesse público, temporariamente”, para até 0,5%. A proposta do subcomitê foi resultado de discussões com vários atores e ainda poderá receber aperfeiçoamento.
Na minha opinião, precisamos aqui no Brasil uma lei forte, que garanta a segurança de investimento e o percentual mínimo de mistura, numa ação integrada em todo o continente. A demanda por SAF já bate em nossa porta e precisamos de uma resposta rápida e consistente para acelerar essa rota de sustentabilidade.